quinta-feira, 24 de maio de 2007

Capítulo 3 - A Árvore dos Encantados

O Capitão, que anunciava sua chegada com a salva de tiros dos seus cangaceiros, estava parado em cima de seu cavalo, a sua frente, o andarilho trazia o velho estandarte do Coração de nosso senhor, ao seu lado esquerdo, uma mulher q mesmo embaixo da chuva forte, tinha o semblante da mãe do Senhor, bunita como a flor do mandacarú.
O capitão então, levantou a mão, sem perda de tempo todos os vaqueiros pararam com a salva. Ele olhando fixo para Cícero, que aterrorizado diante da figura o Rei da terra seca, diante do maior exército das terras esquecidas, diante da maior chuva que seus olhos de menino-moço já viram, ficou parado ante a porta.
O Capitão cantou por fim:

"Eu que venho im nome du Senhor
Eu que vi a água sem fim
Eu que vi o sangue e o amor
Repito eu, que vim em nome du senhor

O Padrinhu que tem o mesmo nome seu mi mandou
Pur que sabia que eu ia encontra
O minino-moço que O Santo de nome apadrinhou
Por que santo o menino vai ser nu altar"

Descendo do cavalo O capitão continua:

"E eu vejo pru menino u futuro
O ouro do mundo vai ser pouco
Os caminhu du mundu vão ser muitu
E a cada parada, amor, sangue e seus frutu

Vai correr o trecho, menino, eu te digo
vai percorrer os caminhos que eu não sigo,
por que escrito pelo Nosso Sinhô seu destino está

Vai cortar a carne e o isprito.
Vai ser lenda, cordel i mito,
por que escrito pelo Nosso Sinhô está"

Andando até o menino profeça:

"Minha fé mi trouxe menino
Meu Padrinho de mim fez Capitão
De você fez afilhado, menino
para carregar os mistério na mão"

ajoelhado por fim o capitão estende um embrulho a Cícero:

"Sou mas rei, que qualquer rei,
mas terra e palácio num tenho.
Sou mais rico do que posso levar, menino,
mas só trago comigo o motivo do purque venho

Essa espada veio de outro mundo,
quem a troxe se chamava roninho,
entregou essa espada pro meu padrinho,
que agora entrego pra ti meu santinho!

Por que assim quis o Sinhô
que você fosse escolhido com amor
pra cortar a carne do cão,
pra ser o único a chamar Nosso sinhô de IRMÃO!"

A palavra foi seguida por gritaria e salva de tiros, bater de palmas, e de pés no chão molhacento. Cícero atordoado como se tivesse tomado toda a cachaça da venda do cumpadre preto, caiu de joelhos e cantou:

"Quem sô eu pra ter Capitão nus meus pé?
Quem sô eu pra recebe do Padrinho presente?
Quem sô eu pra chamar o Sinhô di irmão?
Quem sô eu pra decidi que sim ou que não?

Se levante homi, que da sua sandalia sô tapete,
da sua pechera so bainha, da cartuchera alvo,
Se levante por que Padrinho te fez Capitão,
e de mim, Nosso senhor fez orfão, sem aguá ou pão"

O Capitão sorriu, entre os dentes brancos um de ouro, e colocando a mão no ombro de Cícero, deisse por fim:

_Padrinhu me disse qui assim ia ser. Que ia negar, por que discunhece quem é. Mas vamo hoje festeja, meu menino, a procura do fim-du-mundo cabo-se!

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