quinta-feira, 24 de maio de 2007

Capítulo 4 - Tempestade

Os homens do Capitão armaram acampamento nas terras de Cícero. A chuva caía, como no Livro, no tempo em que a terra toda virou água, o “Diluvu”, a tempestade. Mas dentro da casa, só algumas goteiras caíam no chão batido, e sentados nas cadeiras que haviam na casa estavam, Cícero, O Capitão, e o anjo que ele capturou na sua viagem ao Céu, ao qual chamou de Maria, porque tinha as feições da mãe do Senhor. O andarilho estava agachado, um joelho no chão e o estandarte roçando na palha do teto. O Capitão havia mandado um dos homens trazer vários embrulhos, que jaziam agora sob os pés do menino-moço, que ainda procurava entender toda a cantoria do Capitão. Por fim, acendendo um cigarro de fumo-de-corda, e estendendo outro a Cícero, o Capitão põe a falar:

_Esses presentes que trago das minhas viagens, a cada parada, a cada batalha, algo de valor é acrescentado ao depósito da espada que meu Padrinho me fez. Vamo rapaz desembrulhe:

Calado e apreensivo, Cícero pega um dos pacotes no chão, retira a folha de papel de ceda florido que embrulhava o presente. Era um chapéu, como os que os homens do cangaço usavam, diferentes dos chapéus dos vaqueiros. Esse era especial, tinha na aba dobrada uma cruz em ouro, e três medalhas do santo que chamavam de Bento. Cícero olhou com espanto para O Capitão. Que disse:

_É a cruz do cordeiro, e as medalhas do Santo Bento. Vai te proteger na sua empreitada. Vista e vamo vê cumé que fica.

Cícero vestiu sem graça, o Capitão sorria satisfeito enquanto soltava a fumaça pelo nariz queimado do sol. Cícero pegou então outro pacote. Nesse Havia uma jaqueta de couro, incrustado nas costas havia uma imagem do santo guerreiro, que os homens nas batidas do atabaque chamavam e ogum-iê, e as mulheres do rosário chamavam de Jorge. A imagem tinha pedras e ouro. O Capitão fez um sinal de sim com a cabeça e Cícero vestiu a jaqueta, de couro forte como nunca vira, mas de vestir macio. Pegou, pois o terceiro pacote e desembrulhou. Dessa vez havia um livro. Cícero sabia o que era, pois havia visto um uma vez, folheou, mas não sabia lê-lo, na verdade, o menino-moço não sabia ler. O capitão disse então:

Não se preocupe, a mesma pessoa que me ensinou o ensinará. Meu escravo agora é seu.

Por fim o Capitão fez um ultimo sinal, e um baú adentrou a casa. Em cada extremidade, uma figura de uma mulher com asas no lugar dos braços, as figuras, que depois Cícero viera saber, eram querubins e eram feitas em ouro. Uma vez que O Capitão abriu o baú com uma chave que trazia no pescoço, dentro do mesmo havia algo de vidro e com mangueiras, um cajado dividido em três, uma ponta de lança e uma winchester:

_ A primeira das benção é o clariar – disse o Capitão enquanto pegava o objeto de vidro – O Clariar das idéia meu minino. Isso é um “argrilo”. Um fumo di otru deserto. Mostra a quem pita, como foi, é i vai sê!

O Capitão preparou então o fumo, o acendeu, e entregou a ponta de metal da mangueira ao menino-moço, que a tragou profundamente. Apenas um instante depois, ele viu o princípio...

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